
O papel das plataformas e serviços da unidade FCCN - durante o período de confinamento
Artigo de Opinião
Por João Nuno Ferreira, Coordenador Geral da Unidade FCCN da FCT
Os desafios colocados pela pandemia de Covid-19 foram tão variados como exigentes. Por essa razão, durante o período de confinamento, a FCCN procurou agir em várias frentes, de forma a oferecer uma resposta transversal que, efetivamente, ajudasse as diferentes comunidades de utilizadores dos seus serviços. Como resultado, vários serviços disponibilizados pela FCCN assumiram papéis relevantes durante esta fase. Existem alguns fatores que, acredito, fizeram a diferença para que esta resposta fosse garantida.
Antes de mais, penso ser importante destacar que a boa capacidade de resposta da rede académica nacional ao processo de confinamento teve por base o seu modelo de gestão. Isto porque, enquanto rede independente das operadoras comerciais, que gere os seus serviços de forma autónoma, tem maior rapidez e liberdade de resposta para solicitações tecnológicas urgentes. Existindo competências in-house, não havendo necessidade de passar por trâmites de alteração ou redefinição de contratualização, o processo de resposta a uma crise torna-se mais ágil. Nesse sentido, acredito que garantir uma rede académica nacional com competências técnicas próprias é fundamental para haver capacidade e flexibilidade de resposta a este tipo de desafios, no curto espaço de tempo que a circunstância o exigiu.
A rede académica portuguesa tem uma cobertura muito alargada. No caso português suportamos não só o Sistema português de ensino superior (nomeadamente o setor público) e o Sistema nacional de ciência e tecnologia, mas também a conectividade das escolas do Ministério da Educação e as unidades orgânicas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Assim, são cobertas não só as comunidades de natureza mais administrativa, ligadas ao ministério, como também entidades como a comunidade educativa não superior e, de forma mais próxima e com mais serviços, o sistema de ensino superior e de ciência e tecnologia.
Serviços digitais alargados da FCCN
Os serviços digitais avançados que a FCCN disponibilizava antes da crise eram já bastante completos, uma vez que em Portugal, a rede académica estende a sua atuação para além dos serviços base de conectividade. Alguns países têm redes académicas mais focadas só nas componentes de oferta de serviço de conectividade, mas a unidade FCCN tem trilhado um caminho no sentido de disponibilizar também, de forma central, serviços colaborativos, de computação e de conhecimento. Foram estes serviços de colaboração, que já funcionavam antes e que permitiram dar resposta rápida e eficaz aos desafios do confinamento.
O serviço mais relevante no confinamento
Da oferta de serviços colaborativos da FCCN destaca-se, em primeiro lugar, o serviço de videoconferência Colibri, o qual opera neste momento sobre tecnologia Zoom. Embora o serviço não esteja vocacionado para dar suporte a aulas - sobretudo se estas tiverem audiências numerosas - a verdade é que a sua qualidade e o facto de termos uma comunidade muito habituada a utilizar este serviço, possibilitou a sua rápida adoção pelas universidades, politécnicos e unidades de investigação, como substituto das aulas e atividades presenciais. Isto obrigou a um esforço muito rápido de melhoria da capacidade de resposta, quer ao nível do controlo de acessos, como ao nível no número de licenças.
Aumentou muito o número de sessões Colibri. Entre março e junho de 2020 contabilizámos 1.055.970 sessões Colibri. Como modelo de comparação, valerá a pena referir que, durante todo o ano de 2019, tivemos um total de 30.847. Em termos de participantes, o número refletido neste período é de 15.865.364 e durante 2019 tivemos um total de 206.586.
O Colibri com a sua imediata adoção por parte da comunidade de ensino superior, foi sem dúvida, a plataforma mais relevante e aquela que, numa fase inicial, requereu a maior atenção das nossas equipas técnicas, para ser adaptada ao aumento de carga que então surgiu. Conseguimos fazê-lo com sucesso e passou a funcionar sem problemas, com a procura adicional verificada.
Solução Colibri Webinar
A virtualização das aulas foi seguida pela virtualização dos eventos. Nesse sentido, a limitação de trezentos participantes do Colibri rapidamente se fez sentir e, como resposta, iniciámos imediatamente um programa piloto, também este sobre tecnologia Zoom, para disponibilização do serviço Colibri Webinar. Já dispomos hoje desta nova valência do Colibri, com capacidade para suporte, em modelos webinar, de audiências muito mais alargadas (entre 300 e 1000 participantes), respondendo assim a solicitações da comunidade de utilizadores que servimos.
Outros serviços importantes
Outro serviço que também registou um claro aumento foi o Educast. É um serviço que permite muito facilmente aos professores gravarem as suas aulas e disponibilizá-las numa plataforma ou página web. As aulas são gravadas, editadas e publicadas, ficando disponíveis num servidor de armazenamento nosso. O conteúdo pode depois ser linkado ou embebido em páginas próprias dos departamentos, das faculdades ou escolas.
Este serviço registou também um aumento acentuado na sua utilização: entre março e junho, o número de vídeos produzidos foi de 10.583, quando o total anual em 2019 fora de 2.179 vídeos. O número de visualizações atingiu no período referido, 1.369.077, concluindo que, em apenas 4 meses, foi ultrapassando o total anual de 2019, que tinha atingido 1.019.568 visualizações. Quanto ao número de canais criados na plataforma educast, de março a junho, foram criados 1.849, face a um total anual em 2019 de 204 canais.
Assim, os serviços Colibri e Educast terão sido claramente os que mais se destacaram na fase de confinamento, no entanto é ainda de referir a plataforma NAU, dedicada à disponibilização de cursos a distância para grandes audiências, em Língua Portuguesa. Neste caso, a produção de conteúdos tem outra exigência e complexidade, não sendo tão fácil a criação de novos conteúdos durante o confinamento. No entanto, muitos dos cursos que já estavam disponíveis continuaram a ser lecionados e é portanto uma plataforma com um enorme potencial de utilização, nestas fases que ainda se afiguram de restrições aos contactos presenciais.
Por fim, dois outros serviços que também disponibilizámos há algum tempo, que são intensamente utilizados na nossa comunidade e que continuaram a servir de apoio durante a fase de confinamento, são o serviço Filesender, para troca de ficheiros de grandes dimensões, de forma segura, e o serviço Videocast, o qual permite streaming de vídeo de “um para muitos”, em regime de self service, que a comunidade pode utilizar quando quiser, configurando as suas próprias sessões.
Inovação e piloto de sistema de avaliação remota
Trabalhámos ainda na inovação de novos serviços. Com o fecho das aulas presenciais e o início de aulas remotas para muitos milhares de alunos do ensino superior, passou a ser necessário existirem soluções de acesso seguro dos alunos, diretamente das suas casas e através de serviços Internet comerciais e pessoais, aos servidores e serviços internos das universidades e politécnicos. Era necessária uma solução VPN (Virtual Private Network) e, nesse sentido, preparámos e difundimos uma solução open source, já usada na europa, designada de eduVPN. Disponibilizámos documentação e manuais de instalação para que as nossas entidades de ensino superior pudessem, com o seus próprios recursos e sem ter que pagar licenças, instalar rapidamente soluções de VPN, para que os seus alunos e docentes pudessem aceder aos respetivos servidores locais. Foi um apoio à comunidade para facilitar uma solução para os acessos seguros e controlados dos alunos aos recursos locais de cada instituição.
Por fim participámos, em conjunto com várias entidades do ensino superior, num estudo sobre sistemas de avaliação remota para eventual utilização futura. A avaliação presencial, em muitos casos deixou de ser possível e respondendo a várias solicitações, trabalhámos no sentido de ver que soluções existem no mercado, testando-as e vendo a efetividade e credibilidade das mesmas para sistemas de avaliação remota.
Ações complementares de apoio à ciência
De referir ainda outras componentes e ações relevantes nesta fase, levadas a cabo pela FCCN. Uma vez que a FCT é uma entidade central no sistema de ciência e tecnologia nacional. É através dela que são canalizadas quase todas as verbas de apoio à ciência e a sua agilização é também a agilização da ciência em Portugal. Assim, trabalhámos ativamente na digitalização dos instrumentos de ciência da FCT, no sentido de renovar componentes que ainda não estavam inteiramente modernizadas. Como exemplo refiro a digitalização do “reporte de despesa de projetos” que veio facilitar esse processo aos de financiamento de projetos da FCT.
Igualmente a nível interno, a implementação recente de uma solução de gestão documental permitiu desmaterializar todos processos internos que ainda usavam papel. Deste modo foi muito mais fácil manter a operacionalidade da organização em regime de teletrabalho.
Upgrades e capacitação da rede
Para além das referidas plataformas de apoio e serviço final aos utilizadores, houve um trabalho invisível, ao nível da rede. Foram feitos upgrades pontuais em locais onde se antecipava que pudesse haver contenção. A nossa rede tem, em quase todos os locais, uma capacidade elevada de débito, no entanto, num ou noutro ponto foi necessário fazer melhorias.
Essas melhorias foram feitas, atempadamente e de forma invisível aos utilizadores, sempre assegurando que as capacidades de tráfego estariam de acordo com as solicitações
De forma resumida, foram estas as atividades da FCCN para dar resposta a esta crise. Partimos de um ponto em que estávamos relativamente bem preparados e com capacidades internas de resposta. À medida que fomos tomando consciência das solicitações e do aumento de procura, fomos ampliando e melhorando os nossos serviços para que a comunidade tivesse sempre possibilidade de os utilizar com qualidade e facilidade.